um FLASH da HISTÓRIA



PREZADO AMIGO/IRMÃO DELCIO.

Com a ajuda do nosso amigo comum, o Sérgio Caldieri,
consegui o nome de todos que estavam na célebre reunião
de Fundação da Associação Brasileira de Escritores (hoje,
União Brasileira de Escritores, após várias mudanças)..

Este evento ocorreu em 1942, no Rio de Janeiro, na sede
da Associação Brasileira de Imprensa.

Lá estava o nosso querido e saudoso "JILDO", cujos 120
anos de nascimento, haveremos de comemorar condigna-
mente em outubro de 2010 (dia 8).

FOTO
da esquerda para a direita, de pé: Simões dos Reis, Pinheiro de Lemos, Aurélio Buarque de Holanda, Aydamo de Couto Ferraz, Josué Montello, José Honório Rodrigues, Genolino Amado, Graciliano Ramos, Marques Rebelo, Roberto Alvim Correa, Wilson Louzada, Wilson W. Rodrigues, Oswaldo Alves, Mello Lima, Rubem Braga e Vinícius de Moraes; sentados: Carlos Drummond de Andrade, Norberto Frontini (escritor argentino), Levi Carneiro, Peregrino Júnior, Manuel Bandeira, Edgard Cavalheiro, Astrojildo Pereira, Francisco de Assis Barbosa e Tito Betini

José Roberto Guedes de Oliveira ***** JILDO O OPERÁRIO DA PALAVRA E DA POLÍTICA # Roteiro da Intolerância



"JILDO" - O OPERÁRIO DA PALAVRA E DA POLÍTICA

Roteiro da Intolerância.

Corria o ano de 1964. As prisões, torturas e desaparecimento de figuras do país se tornavam corriqueiras.

As perseguições e violações dos mais elementares direitos individuais se registravam por todo canto. A caça era algo monstruoso e que não há como se esquecer.

Os jornais e revistas davam conta do que se processava e se apresentavam na defesa das personalidades retiradas, muitas vezes, do recesso do seu lar.

Entre estas publicações, a revista "Leitura", órgão de fomento cultural-literário, dava a sua contribuição, principalmente pelo que vinha acontecendo com o "Jildo". Numa edição de 1965, alguns meses antes do falecimento do célebre escritor e humanista, a sua redação assim se expressava:

"A prisão de Astrojildo Pereira ocorreu a 9 de outubro de 1964, quando o escritor se apresentou espontaneamente para depor em um IPM, tendo sido conduzido para o quartel do 3o. Batalhão de Polícia Militar. Permaneceu incomunicável durante 34 dias. A 11 de novembro foi-lhe concedido o primeiro habeas corpus, pelo Supremo Tribunal Militar, sob a alegação de falta de provas. Entretanto, o escritor continuou preso, não sendo cumprida a decisão judicial.

A 26 de novembro, o STM deu um prazo de 24 horas para que Astrojildo Pereira fosse libertado. Nesse interim, por motivo de uma crise cardíaca, Astrojildo ainda preso, foi conduzido para um Hospital Militar, onde voltou a ficar incomunicável por duas semanas. Houve em seguida a concessão de outro habeas corpus, sem que nem por isso houvesse a libertação consequente e natural. (Aqui vale esclarecer, também, que as medidas judiciais foram concedidas por unanimidade de votos). Mas finalmente, na primeira sessão de 1965, o egrégio Supremo Tribunal Militar resolveu libertá-lo, enviando a decisão para as autoridades competentes.

Astrojildo Pereira tem 74 anos de idade, e durante o período de internamento, 84 dias, sofreu 4 crises cardíacas. Trata-se de um excelente ensaísta, crítico literário da melhor qualidade, dos maiores conhecedores da obra de Machado de Assis, que conheceu pessoalmente e do qual faz inclusive uma interpretação sociológica. Dominava vários idiomas e, também, a literatura dos países cuja língua conhece e, sobre ser um fiel intérprete da doutrina marxista, é um dos personagens do meio cultural brasileiro mais humanos que conhecemos".

Viva, Astrojildo...

Quando do lançamento do nosso livro "Viva, Astrojildo Pereira!", no Centro Cultural Dragão do Mar, em Fortaleza, em 2005, o jornalista Gervásio de Paula, do Diário do Nordeste, assim disse sobre o homenageado:

"Há aqueles que lutam um dia; e por isso são bons. Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons. Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda. Porém, há aqueles que lutam toda vida; esses são os imprescindíveis". As definições do clássico escritor Bertolt Brecht aplicam-se aos destinos dos estivadores da luta ideológica do dia a dia entre as nações. Mas, com mais verticalidade, ao homem comum que segue linhas sinuosas de sua trajetória de vida, na refrega cotidiana, buscando melhores condições de sobrevivência para seus irmãos desfavorecidos na sociedade atual. Dos imprescindíveis de Brecht pode-se enquadrar, sem ser injusto com outros batalhadores ded causas libertárias, o operário da palavra e da política com "P" maiúsculo, Astrojildo Pereira - fundador do PCB, a 25 de março de 1922.

Conta o escritor Euclides da Cunha, autor de Os Sertões, na Revista do Grêmio Euclides da Cunha, a 15 de agosto de 1915, o seguinte: "Ouviram tímidas pancadas na porta principal da entrega. Abriram-na. Apareceu um desconhecido; adolescente de 16 para 18 anos no máximo. Perguntaram-lhe o nome. Declara ser desnecessário dizê-lo; ninguém ali o conhecia. Não conhecia por sua vez ninguém; não conhecia o próprio dono da casa, a não ser pela leitura dos livros que o encantavam. Que o desculpassem, portanto. Se não era dado a ver enfermo, dessem-lhe ao menos notícias de seu estado. E o anônimo juvenil , vindo da noite, foi conduzido ao quarto do doente. Chegou. Não disse uma palavra. Ajoelhou-se. Tomou a mão do mestre; beijou-a num belo gesto de carinho final. Aconhegou-a depois por momentos ao peito. Levantou-se e, sem dizer uma palavra, saiu.

Coelho Neto, Rodrigo Otávio, Graça Aranha, José Veríssimo estavam no casarão da rua Cosme Velho, 18, naquela noite de 27 de setembro de 1908. Na madrugada do dia 28, morria Machado de Assis. O jovem que Euclides da Cunha registrou visitando o moribundo era Astrojildo Pereira. Em 1931, o PCB sofreu uma intervenção stalinista que acabou gerando a expulsão de vários membros históricos, entre eles o fundador Astrojildo Pereira. Profissionalmente premido por dificuldades financeiras, Astrojildo dedicou-se ao comércio de frutas (para não vender a alma, como mais tarde observou a seu respeito o escritor Graciliano Ramos), só retomando plenamente a atividade política e cultural em 1945.

Preso pelo regime militar de 1964, não resistiu aos interrogatórios torturantes a que foi submetido, vindo a falecer alguns meses depois de sua libertação, no dia 20 de novembro de 1965. Esse homem é um símbolo de dignidade da história política brasileira. É uma história merecedora de reconhecimento e reflexão por parte da juventude e dos pais que não querem seus filhos contaminados pelo vício da cleptomania que, nos últimos anos, infesta os labirintos da vida sócio-política nacional".

Lembramos, aqui, para conhecimento de todos, que meses depois falecia a sua eterna companheira, Maria Ignês Dias, filha de Everardo Dias.

José Roberto Guedes de Oliveira
E-mail: guedes.idt@terra.com.br
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